Fiocruz aposta em vacinação contra covid-19 a partir de 2021
Pesquisadores
da Fiocruz apostam em vacinação inicial contra a covid-19 em fevereiro
de 2021 para um público específico. A partir daí, a produção nacional
das doses poderá garantir imunização à população em geral, afirma a
vice-diretora de Qualidade da Bio-Manguinhos (Fiocruz), Rosane Cuber
Guimarães.
Os
recentes resultados de pesquisas da Universidade de Oxford, no Reino
Unido, sobre a segurança da vacina contra a covid-19 elevaram o nível de
otimismo em todo o mundo que, desde dezembro do ano passado, observa o
alastramento do novo coronavírus, causador da doença, em todas as
regiões. As pesquisas das fases 1 e 2, exigidas pelo procedimento
científico, descartaram efeitos adversos graves provocados pela vacina.
Foram registrados relatos de pequenos sintomas, como dores locais ou
irritabilidade, aceitos em vacinas contra outras doenças.
O
Brasil foi um dos países escolhidos para participar da Fase 3 dos
estudos, que testa a eficácia da vacina. Os testes, que estão a cargo da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e outras instituições
parceiras, envolvem 5 mil voluntários de São Paulo, Rio de Janeiro e
Salvador. A expectativa é detectar a capacidade de imunização das doses
e, a partir daí, a Fiocruz – parceira brasileira nas pesquisas de Oxford
– receberá autorização para importar o princípio ativo concentrado,
que será convertido inicialmente em 30 milhões de doses a serem
aplicadas em parcela da população brasileira.
Rosane Guimarães disse ao programa Impressões, da TV Brasil,
que vai ao ar neste domingo (26), às 22h30, que, em dezembro deste ano,
o Brasil receberá 15 milhões de doses e, em janeiro, mais 15 milhões de
doses.
“Estamos
recebendo agora apenas 30 milhões de doses porque precisamos, antes de
liberar a vacina, ter certeza da comprovação da eficácia dela. Então nós
adquirimos 30 milhões de doses no risco e, se a vacina se comprovar
eficaz, vamos receber mais 70 milhões de doses, totalizando, para o
país, no primeiro ano, 100 milhões de doses de vacinas”, disse.
A
Bio-Manguinhos será responsável pela transformação do princípio ativo e
fará a formulação final das vacinas, além de envasar, rotular e
entregar o material para que o Programa Nacional de Imunização do
Ministério da Saúde faça a distribuição. As primeiras doses devem ser
destinadas aos grupos de risco, como profissionais de saúde e pessoas
idosas, mas isso ainda está em debate.
Caso
as previsões se confirmem, a expectativa é que o país passe a produzir
nacionalmente a vacina a partir do segundo semestre de 2021.
“Paralelamente a isso, precisamos avaliar se será necessária apenas uma
dose da vacina, se serão necessárias duas doses, se será necessário
revacinar. São perguntas para as quais ainda não temos respostas. Os
estudos vão continuar”, disse a especialista em vigilância sanitária.
Segundo
Rosane, a vacina está em um excelente caminho e avançou rapidamente
porque Oxford já trabalhava com o mesmo adenovírus de chimpanzé que está
sendo usado nas pesquisas, um vírus que não causa doença em seres
humanos.
Rosane
explicou que a vacina carrega uma sequência do RNA do coronavírus e da
proteína spike, que pode garantir que um organismo produza anticorpos.
“Eles fizeram testes nessa plataforma [utilizando esse princípio] para
Mers [síndrome respiratória do Médio Oriente] e para ebola. Eles já
tinham grande parte do que é necessário para produção da vacina,
preparado, o que já foi um acelerador. Outra coisa é que, neste momento
de pandemia, os estudos clínicos foram facilitados e houve colaboração
entre os países.”
Mesmo
com os indicativos positivos, Rosane alerta que a pandemia não vai ser
resolvida de uma hora para outra. “Acreditamos que, em 2021, ainda não
se consiga vacinar completamente toda a população. Nossa orientação é
que enquanto a vacina não sai, ou ainda estiver sendo aplicada, que as
pessoas mantenham as orientações que já existem hoje: uso da máscara,
lavar as mãos, evitar aglomeração, distanciamento. Ainda temos que
continuar convivendo com esses cuidados até que todas as respostas sejam
dadas pela vacina.”
A
possibilidade de um revés é praticamente descartada pela pesquisadora.
Segundo Rosane, a Fase 3 dos estudos pode, sim, apontar um grau de
imunização de mais de 90%. “Se for maior, a gente consegue relaxar um
pouco”, mas há riscos de que essa eficácia atinja níveis de apenas 50%
ou 70%. “Vamos ter que fazer mais estudos e talvez buscar uma vacina com
potencial maior, mas já será um alento se tivermos uma vacina com mais
de 70%.”
Atualmente,
o Brasil é terreno fértil para a pesquisa por ocupar o segundo lugar
entre os países com maior número de casos da covid-19.
Há outras empresas trazendo vacinas para o Brasil. Um exemplo é a pesquisa desenvolvida pela parceria entre o Instituto Butantan e a empresa chinesa Sinovac, com sede em Pequim. Nas próprias instalações da Bio-Manguinhos, cientistas brasileiros desenvolvem dois estudos, que estão ainda em fase pré-clínica, com experimentos em animais.