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A Aviação Regional como forma de desenvolvimento

O Brasil é um dos países em maior extensão territorial do mundo, são aproximadamente oito milhões e meio de quilômetros quadrados e mais de 215 milhões de habitantes. Nosso modal logístico, que antigamente era baseado em ferrovias, foi alterado durante o governo militar para o rodoviário, para impulsionar a então ainda jovem indústria automobilística. Isso foi muito bom e, de fato, nossa indústria de carros e caminhões cresceu absurdamente após essa escolha de logística (aqui, quando falo em logística, me refiro a transportes de cargas e pessoas). Décadas se passaram e a opção pelas rodovias se mostrou falha, pois nosso país é extremamente grande, muitas rodovias, essencialmente aquelas ainda públicas são desgastadas e mal cuidadas, o que ajuda a manter o Brasil como um dos que mais mata em suas estradas. Apesar de termos bons exemplos de estradas privadas eficientes, a grande maioria lembram estradas da década de 50. Santa Catarina é um exemplo de um estado super desenvolvido, mas com seu modal de transportes totalmente defasado, talvez um dos piores do país. Aqui vai uma menção honrosa a famigerada BR-470, talvez uma das piores estradas do mundo, a BR-282 com suas curvas e filas sem fim até chegar na BR-101, rodovia que quando foi privatizada e duplicada já estava ultrapassada, necessitando urgentemente de mais pistas.

Mas então, qual a solução para facilitar a vida das pessoas e diminuir a perda de tempo com as intermináveis filas, sem contar com o risco de morte nos deslocamentos terrestres em estradas precárias. Não resta a menor dúvida que para o transporte de cargas, a substituição de caminhões por trens seria o ideal, barateando o frete e deixando o escoamento da produção agrícola mais eficiente. O problema é o custo de implantação de uma ferrovia em regiões já densamente habitadas e em áreas de preservação ambiental. Essa conta não fecha. Difícil evoluir.

Já quando falamos do transporte de pessoas, a solução é muito, muito mais fácil. O transporte de passageiros via aérea é algo que necessita de aeroportos adequados e seguros e empresas aéreas privadas de médio e pequeno porte interessadas. Nos Estados Unidos isso funciona muito bem, são inúmeros exemplos de deslocamentos relativamente curtos, em vôos de 15 a 30 minutos que tiram as pessoas das estradas, as transportam mais rapidamente e facilitam a vida de todos.

Estou comparando o modelo de aviação regional dos Estados Unidos, a maior potência econômica do mundo com o Brasil? Na realidade, estou observando que é possível sim, termos algo, não tão presente como no país do norte, mas adequado a realidade brasileira. Em Santa Catarina, cidades como Joinville, Lages, Blumenau e Criciúma, deveriam ter linhas aéreas para a capital que se conectariam aos vôos para cidades maiores de todo o país e fora dele. Aviões adequados, como o famoso Cessna Caravan, com capacidade para 9 passageiros ou até aeronaves maiores como o Cessna 408 Sky Courier, o Let L – 410 Turbolet, entre outros com capacidades de 15 a 20 pessoas deveriam estar presentes nessas cidades. Ir de carro de Blumenau até a capital e demorar às vezes 3 a 4 horas é algo impensável. Já imaginou quanto custa a hora de um empresário ou um empregado qualificado parado dentro de um carro em um engarrafamento? Essa conta deve ser feita, sempre. Lembram do incentivo que o governo militar deu para a indústria automobilística citado acima? Pois bem, talvez tenha chegado a hora do mesmo governo incentivar a indústria da aviação regional, baixando impostos para a aquisição de aviões adequados, diminuindo taxas para a criação de pequenas companhias aéreas, além de taxas aeroportuárias pequenas e impostos sobre o combustível de aviação baixos. Temos alguns exemplos no Brasil de pequenos incentivos e isso já favoreceu a chegada de grandes companhias aéreas em cidade de médio porte, só que estes são casos isolados.

É importante ressaltar que temos no Brasil uma das melhores fabricantes de aviões do mundo, a EMBRAER. Nela, gênios aeronáuticos brasileiros, muitos deles formados no ITA desenvolvem o que há de melhor em aviões de médio porte, como por exemplo a família E – Jet. Por que não, uma encomenda do governo de projetos de aviões de pequeno porte para depois passar à iniciativa privada. Lembra do Bandeirantes e do Brasília? São aviões EMBRAER que se encaixam perfeitamente no cenário regional. A Companhia aérea Azul através do Azul conecta, também é um exemplo disso, pois liga pequenas cidades em pequenos aviões para capitais, especialmente no Rio Grande do Sul, porém, esse Estado tem um relevo muito mais favorável do que o nosso, são planícies, pampas, coxilhas, algo que não temos aqui e que facilita a operação de aeronaves de pequeno porte em pequenos aeroportos. No entanto, em Santa Catarina, as dificuldades são um pouco maiores. Não podemos deixar de citar que nosso relevo em cidade encravadas em vales dificulta a operação da aviação regional, especialmente no inverno, mas isso, pode ser facilmente contornável com o uso da navegação via GNSS, que é de graça e está cada vez mais presentes no dia a dia das aeronaves e dos pilotos e permitiria pousos em aeroportos como o de Rio do Sul e Blumenau, que ficam em vales, rodeados por montanhas. Em resumo, nosso clima e relevo desfavorecem pequenos aviões em pequenos aeroportos, mas há tecnologia para ultrapassar esses obstáculos.

Nosso Estado fica ainda apenas com a ligação aérea entre Chapecó e Florianópolis e em muitos casos, temos que ir até São Paulo em escala, para chegar ao destino em Santa Catarina. É muito pouco para um Estado que tem o quinto maior PIB do país, que tem um oeste a 700 km do litoral e como eu disse acima, uma das piores malhas viárias do Brasil. Lembro que aqui no Estado, já temos aeroportos em cidades importantes como Videira, Joaçaba, Rio do Sul, Lages entre outros, basta apenas adequações, pequenos terminais de passageiros e principalmente, equipamentos de aeronavegação. Por fim, mas não menos importantes, ressalto que as novas aeronaves estão com seus custos operacionais cada vez mais baixos, um salto de tecnologia que logo teremos serão os motores Open Fan movido a Hidrogênio, que serão, em alguns casos, 70% mais econômicos que as turbinas atuais. Mais um ponto para pensar no futuro da aviação regional no Brasil e em especial, Santa Catarina. Teremos aviões mais econômicos e se somarmos isso a pistas adequadas, sistemas de navegação via satélite, incentivos governamentais e uma iniciativa privada interessada e empreendedora, poderemos sim, pensar que no futuro, viagens de 100, 200, 300 quilômetros dentro do nosso Estado, poderão ser via aérea. Sonhar e trabalhar para isso, é o que devemos fazer.

O Comandante Edison Ohf de Andrade é piloto de linha aérea, habilitado em 5 países (EUA, Brasil, China, Portugal e Ethiopia) com aproximadamente 14 mil horas de vôo, além de ser piloto comercial de helicóptero no Brasil e USA e piloto de planadores em 3 países (Brasil, EUA e Chile) sendo também piloto de demonstrações aéreas e instrutor.